Com perdas de R$ 1,5 bi, minoritários tentam reverter prejuízo no caso Americanas
As ações da Americanas eram consideradas uma estratégia segura para muitos pequenos investidores que apostavam em ações um ano atrás. Não à toa esse grupo tem hoje um prejuízo superior a R$ 1,5 bilhão.
Segundo o Instituto Empresa, prejuízos de fundos nacionais e de Previdência são bem inferiores aos de pessoas físicas. Dos 134 mil investidores (pessoa física) da época, cerca de 90% tiveram um prejuízo de até R$ 10 mil.
Essa foi a maior queda diária de uma empresa de capital aberto desde 2008. Até o momento as ações da Americanas acumulam cerca de 92% de perdas.
“Isso demonstra que pequenos investidores e iniciantes consideravam Americanas como uma ação segura, até pelo nome do trio que estava por trás da empresa, então isso abala muito a confiança de novos investidores e até de investidores que pensavam em investir no varejo”, explica Rafael Mortari, que é advogado, especialista em direito dos minoritários do Instituto Empresa.
Ele, junto com os outros advogados do Instituto, reuniu investidores lesados e ingressou com uma arbitragem na Câmara de Arbitragem de Mercado (CAM) da B3, buscando responsabilizar a companhia por falhas nos deveres de fornecer informações ao mercado e compensação aos acionistas.
Há 1 ano, após o fechamento do pregão da Bolsa de Valores, a varejista divulgou que havia identificado inconsistências contábeis em seus balanços corporativos, com um prejuízo estimado em cerca de R$ 20 bilhões que, após auditorias, se tornaria em um rombo de R$ 40 bilhões entre fraudes e lançamentos indevidos.
Esse era apenas um episódio da série de eventos que viriam a seguir e que tornou o caso Americanas o maior escândalo corporativo do Brasil.
Naquele 11 de janeiro entrava em colapso a Americanas e mais de 134 mil investidores brasileiros (pessoa física), que começavam ali a enfrentar uma crise sem precedentes.
As ações da varejista despencaram 77,33% no dia seguinte à divulgação do balanço, mesmo com a B3 colocando os papéis em leilão por repetidas vezes, um mecanismo de defesa utilizado para interromper as negociações das ações para impedir uma variação bruta.
Na opinião dos advogados do Instituto, ainda há como o investidor minoritário recuperar o prejuízo que teve, mas somente através da arbitragem, que é obrigatória neste caso devido ao estatuto da companhia.
“Também houve grandes perdas em fundos de investimentos, nacionais e estrangeiros, além de uma substancial perda em fundos de pensão, de forma que não só os investidores do mercado perderam. Pessoas como funcionários públicos, que jamais tiveram uma conta em uma corretora, por exemplo, também foram prejudicados pela fraude”, diz Adilson Bolico, advogado e sócio do Mortari Bolico Advogados.
O Instituto Empresa, que é uma associação civil que atua na defesa de acionistas minoritários, fez uma apuração das perdas nominais sofridas no caso Americanas, com base em dados que foram fornecidos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Adilson explica que, no caso dos fundos, os gestores e administradores têm o dever de atuar para mitigar e recuperar perdas anômalas sofridas em investimentos que realizaram, já que o cotista não possui ação direta nestes casos e acabam ficando refém da decisão dos gestores dos fundos. Mas, segundo o advogado, muitas vezes por conflitos de interesses, os gestores acabam não tomando providências jurídicas em busca de reparação.
Visão do mercado
Além do prejuízo direto aos investidores, a fraude da Americanas descredibilizou o setor de varejo, que viu os credores fecharem as portas, aumentar critérios para a disponibilização de crédito e dificultar a operação de muitas empresas, de acordo com especialistas do mercado financeiro.
A maioria dos estrategistas e analistas pararam de recomendar investimentos nas ações da Americanas, com uma visão geral negativa da varejista, que demitiu vários funcionários, fechou diversas lojas e tem perdido cada dia mais vendas para concorrentes.
Para Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, “além de a ação já ser um tipo de investimento para perfil mais arrojado, a da Americanas passou para um nível ainda mais extremo de risco, muito especulativa e com pouca base em perspectiva”, até porque, segundo ele, não há como garantir com segurança que a empresa vai estar sustentável daqui a alguns anos.
Já para Paola Mello, sócia e analista da GTI que acompanha de perto o setor de varejo, o desafio agora é essa empresa achar um modelo de negócio rentável.
“Foram sucessivos aumentos de capital, ao longo de duas décadas e, colocando a dívida para dentro, a gente vê que de fato essas empresas nunca geraram lucro. Então é muito difícil imaginar que essa empresa operando no mesmo seguimento e agora sem crédito, porque com uma empresa em recuperação judicial você não pode pagar a prazo os seus fornecedores, então isso reduz drasticamente os números da operação”, explica Paola que também se diz cética quanto a atual operação da Americanas.
Recuperação judicial
A CNN procurou a Americanas para saber como está o andamento do processo de Recuperação Judicial (RJ). Em nota, a empresa disse que está aguardando a homologação de seu plano de RJ, aprovado em 19 de dezembro de 2023 por 97% dos detentores de créditos, para dar início ao pagamento das dívidas e à capitalização de R$ 24 bilhões, com aporte de R$ 12 bilhões pelos acionistas de referência e conversão de dívidas de R$ 12 bilhões pelos credores financeiros.
A varejista disse ainda que esse importante passo permitirá a captura plena da transformação prevista no Plano Estratégico da Americanas, assim como sua reconstrução operacional e financeira, com retomada de crescimento e impacto imediato na preservação de milhares de empregos diretos e indiretos gerados em todo o país.
“O objetivo da companhia para os próximos anos é continuar a ser o operador de varejo mais simples e diverso do país, com presença em todo o Brasil”, diz a nota.
Fonte: CNN Brasil